quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Cap. 1 – Comida é água?


A escolha do meu próximo destino sempre se baseia no tripé: exotismo/contexto histórico/disponibilidade de tempo e grana.

Cuba foi a escolhida da vez por ser um destino diferente e exótico, por estar atravessando um momento histórico especial (mudanças sociais, políticas e econômicas) e por se tratar de um país pequeno, podendo ser bem conhecido em três semanas de viagem.

Por um misto de falta de tempo e até certo desinteresse não me programei tanto como nos outros mochilões. Isto é, comprei um Lonely Planet de Cuba, uma passagem aérea e fosse o que Deus quisesse. Nos outros mochilões estudei com afinco os destinos, as cidades, o que fazer, onde ir, onde comer, onde ficar. Nesta viagem eu queria apenas ir para um lugar onde eu não era marido, pai, amante, amigo, sócio, freguês, vizinho de ninguém. E nem sociólogo, antropólogo, cientista político, advogado, orgiasta, correntista, contribuinte, prestamista, reservista, eleitor, condômino, assinante, réu, reclamante, cidadão ou qualquer outra porra de merda de bosta.

Enfim, queria deixar as coisas acontecerem mais naturamente, então me limitei a ler alguns livros (romances e técnicos) sobre Cuba e contactar um amigo cubano pelo CouchSurfing.

O CouchSurfing (assim com o Hospitality Club) é uma comunidade internacional de mochileiros (uma espécie de Orkut, Facebook) para troca de informações, dicas e principalmente hospedagem gratuita. O lema do site é mais ou menos o seguinte: “tenha sempre um sofá disponível na sua casa, para que você tenha um sofá disponível para dormir em qualquer lugar do mundo”.

Faço parte desta comunidade há 6 anos, tendo dormido em vários sofás mundo afora, bem como recebido vários gringos na minha casa. Em Cuba encontrei pouquíssimos “couchsurfers” cadastrados. O motivo é que a internet no país é bem limitada e pouco acessível, além do que hospedar estrangeiros em casa é terminantemente proibido...

Enviei “surf requests” aos 7-8 couchsurfers cubanos disponíveis mas apenas um (Enrique) me respondeu. Dei uma olhada no perfil dele e só continha boas indicações/avaliações e relatos positivos de mochileiros que se hospedaram na casa dele. Iniciamos um papo via e-mail e de pronto fui aceito para “surfar o sofá do cara”.

A priori, minha viagem estava marcada para julho de 2010, mas o surgimento de um trabalho bacana me obrigou a adiá-la para janeiro de 2011. Nesse meio tempo mantivemos contato, trocando idéia sobre o país, onde ir, o que fazer, etc.

Quando um mochileiro se hospeda na casa de um couchsurfer, não paga nada pela hospedagem (obviamente), mas reza a cartilha de boas maneiras sempre comprar algo para preparar o almoço/jantar, levar algum presente, etc. A intenção é realmente trocar experiências, conversar, fazer amizades, conhecer como vivem os locais, o que comem, o que pensam, onde trabalham, etc. Gosto deste tipo de viagens e abomino aqueles pacotes turísticos fechados onde te jogam num hotel, te passam uma programação fixa e ponto final.

Perguntei ao Enrique o que ele queria/precisava e a lista foi: um pouco de leite em pó, manteiga e chocolate. Wow! Realmente um pedido atípico, pois teoricamente isso se consegue em qualquer lugar. Não em Cuba...
Acabei montando uma cesta básica que ocupou mais da metade da minha mochila e que continha: latas de leite em pó, latas de manteiga, várias barras de chocolate, chicletes, café e capuccino, leite condensado, doce de leite, canetas, lápis, etc...etc...

Um dia antes do embarque, com a mochila já pronta, surgiu a dúvida: posso levar comida pra outro país?!?!?!?!

Liguei para uma amiga viajada, que disse:

Você tá maluco? Se te pegam entrando com comida na Inglaterra, te põem 7 anos na cadeia!
Uia....

Falei com outra amiga, que está morando na Argentina, e a resposta foi mais animadora:

Coloque tudo na mala que vai no bagageiro, acondicione bem e não terá problema. Já trouxe até carne-seca pra cá...!

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Bom, realmente as restrições devem ser de país a país e não devem abranger todo tipo de alimento. Além disso, nos livros de relatos de viajantes que li, sempre levavam comida pra Cuba. Latas e vidros não devem ser proibidos...

Até porque me lembrei que pouco tempo atrás cheguei em casa 11 e meia da noite e minha irmã, chef de cozinha, estava preparando uma mega-refeição para um batalhão. Perguntei o que era aquilo e ela me disse que ia fazer um almoço em Brasília no dia seguinte e que estava pré-parando as coisas. Perguntei como ela ia levar aquilo? A resposta foi: oxe, de avião meu filho!

Vejam o resultado da epopéia gastronômica de minha querida irmã:


Enfim, se ela embarcou com uma panela de pressão com uma galinha caipira dentro, um saco de farinha baiana e isopor com pamonhas de sobremesa, por que eu não entraria em Cuba com singelas latas de leite condensado e café solúvel?


3 comentários:

  1. Sabino, eu sempre trago comida, queijo duro, carne seca, queijo catupiry, manteiga aviacao.... Mas a unica vez que deu problema foi quando a minha mae trouxe doce de leite e queijos pra mim. Por algum motivo desconhecido os caras criaram caso. Depois descobrimos que os "motivo desconhecido" era que eles pegam o doce de leite pra eles, os que vem rotulados, etc, eles se acham no direito de confiscar. Ou seja, ate os oficiais americanos tem desejos e bons paladares tambem.
    PS: Seu diario de bordo esta me dando vontade de ir pra la. Abracos, Taci

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  2. Nooooooooooohhhhhhhhhhh............MAS QUE MENTIIIIIIIIIRA MADRIIIIIIIIIINHA!!!!!!!!!!!!

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  3. Vc sempre trazendo boas histórias...
    PS: Para Bolívia já trouxe, farinha, camarão seco, pimenta, erva mate, ovomaltine, carne seca, calabresa... rs
    Confesso que tentei trazer um acarajé por encomenda, mas, n deu!

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