quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Cap. 2 – No es fácil...

Gosto e prefiro viajar sozinho. Quando não se tem uma boa companhia é a melhor coisa a se fazer. Ainda assim, os atritos sempre surgem e é preciso ter uma amizade bem sólida para compreender os gostos e vontade do companheiro, abrir mão de algumas coisas ou partir para uma viagem “solitária” dali por diante, sem que a amizade fique abalada.

Como eu não tenho uma gota de paciência com o ser humano em geral (hahaha), prefiro evitar os conflitos e partir sozinho.

Sempre me perguntam se eu não tenho medo, se não me sinto só, se não é perigoso, se não é ruim, etc.

Afirmo com segurança: quando se viaja sozinho, sempre se está aberto a fazer novas amizades, conhecer mais as pessoas, as oportunidades de “surfar um sofá” aumentam, conhecer alguém bacana para fazer um day-trip ou viajar por dois-três dias juntos a um destino específico, rachando as despesas com acomodação, transporte, etc. Além disso, é impressionante a quantidade de pessoas que fazem isso mundo afora (jovens, adultos e até idosos). Os albergues e pousadas estão cheio de viajantes independentes, o que é uma ótima oportunidade para conhecer novas pessoas, arranjar um casual sex, digo, fazer amigas mundo afora.

Enfim, você só está realmente sozinho se, e quando, quiser!

Quebrando relativamente esta minha regra, embarquei com meu amigo Tião, um T-Rex malandro e mais viajado do mundo, que vocês terão oportunidade conhecer melhor logo mais...

Na fila do controle de imigração de Cumbica, já me apareceu a primeira maluca: uma brasileira vindo de Angola e indo pra não sei aonde, tentando embarcar com 30.000 euros em espécie. Deve ter roubado um banco em Angola e tava (pretendia...hehehe) ir pras Ilhas Caymann depositar a grana.

O avião da Taca fazia escala em Lima, no Peru. Não há voos direto do Brasil para Havana. As melhores opções de escala são: Lima (Taca) ou Cidade do Panamá (Copa Airlines). No trajeto até Lima, passamos por cima de Santa Cruz de la Sierra (que reconheci pelo formato de teia de aranha da cidade), Lago Titicaca (saudades da Ilha do Sol...), Cordilheira dos Andes, até pousar em Lima 4:30hs depois.

Lima creio ter sido a única cidade “turística” que não conheci quando estive mochilando no Peru em 2007. Do alto do avião me pareceu uma coisa horrível: uma cidade coberta de areia do deserto, um mar horroroso, uma grande nuvem de pó e poluição cobrindo o céu, dando o aspecto de uma cidade no deserto mexicano, fronteira com os EUA, dominada por gangsters. Adoro lugares bizarros assim. Um dia voltarei com tempo para lá.

Trocamos de avião e quando o outro voo, com destino a Havana, já estava correndo na pista, quase decolando, o piloto freou bruscamente e “arremeteu” a decolagem!!! Informou que tinha um “pequeno” problema técnico e por razões de segurança voltaríamos ao pátio. Estacionou, veio um caminhão-tanque, encheu o avião de querosene e decolamos!

Literalmente surreal... Dou minha cara a tapa se não tinham esquecido de abastecer o avião antes do voo!

 Esta és Taca! “LA MEJOR AEROLÍNEA DE CENTROAMÉRICA Y EL CARIBE SEGÚN SKYTRAX 2009” como diz o site da companhia e o comandante da aeronave a cada 5 minutos. Depois desse incidente, ele não abriu mais o bico. Meus ouvidos e minha inteligência agradecem...

Obviamente, cheguei em Havana com atraso, mas o pai do Enrique (ele se chama “Rolando”, mas todos o conhece pelo apelido de “Roly”) e a namorada dele (do Enrique), Yení, estavam me esperando, conforme havíamos combinado.

Cruzei o aeroporto com decoração kitsch, passei correndo pela Imigração e pelo controle de Aduana/Fitosanitário, entreguei minha ficha de entrada, a qual, no item “está trazendo algum alimento pra Cuba?", meti um “No” vacilante, tomei a mochila nas costas e encontrei meus anfitriões.

Entramos num Lada verde ano 1816, que o Roly “alugou” de um vizinho e fomos pra casa. Na saída, o Roly me disse que se a polícia nos parasse, que eu dissesse que era amigo deles (e não que estava pagando por eles terem ido me buscar – combinei previamente com o Enrique em pagar 25 CUC, para ter a segurança que não seria enrolado por taxistas). Sem problemas com a polícia, tomamos a estrada e... 10 minutos depois.... cof...cof...cof... o carro parou. Bem no meio de uma curva.

Abre o capô, analisa daqui, analisa dali (de fato, muito pouco a analisar, tendo em vista a IMENSA COMPLEXIDADE E TECNOLOGIA DE UM MOTOR SOVIÉTICO!), enfia uma vareta no tanque de combustível e... pimba! 0,5 cm molhado... Acabou a gasolina!!!! Juro por Dios!!!

O Roly ficou possesso. Disse que pôs gasolina antes de ir e que a única explicação era que o sujeito que estava guardando o carro no estacionamento do aeroporto a tivesse roubado!

Yení virou-se para mim e num misto de inconformismo com resignação disse: “No es facil...”

Essa seria a primeira das muitas vezes que eu escutaria essa expressão em Cuba.




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