Acordei cedinho, tomei café-da-manhã e fui caminhando pela praia até o centro de mergulho. Como eu já tinha feito amizade com a rapaziada, já tava enturmado com a galera. O Igor saiu pra mergulhar com o pessoal e o Leonid ficou pra me dar aula. O nome dele é uma homenagem à Leonid Brejnev (ex-presidente da URSS), pois ele nasceu no dia que o Brejnev chegou em viagem à Cuba. O pai dele nem é comunista... os dois irmãos dele se chamam Lenin e Fidel... hehehe
O roteiro do curso em mar aberto incluia dois dias de aulas teóricas e testes práticos na piscina. Como eu já sabia mergulhar, ele foi começando a parte teórica. Na medida que eu fui mostrando que entendia o assunto, ele foi aplicando uns testes e depois de 1 hora e meia já tínhamos coberto todo o conteúdo. Na verdade foi apenas uma revisão. Fiz uma prova e acertei tudo. Kkkkk Facilitou também o fato d’eu falar espanhol, então ele pode dar o curso na língua mãe dele. O inglês do cara é meio sofrível... acho que levaria o triplo do tempo se as aulas teóricas fossem em inglês. Hehehe.
Como ele se sentia seguro com meus conhecimentos, me propôs já irmos pra aula prática na piscina. Perguntou se eu sabia/lembrava como montar o equipamento. Montei tudo lá e ele resolveu então pular a parte do treinamento da piscina e já irmos treinar no próprio mar, na piscina natural em frente ao hotel (o mar não tem ondas, parece uma piscina e ali na frente do hotel a profundidade chega a uns 2 metros).
A única diferença que eu tive que me adaptar era que na minha época o equipamento só tinha um respirador. Em caso de pane embaixo d’água dois mergulhadores tinham que dividir um respirador e um cilindro até poder subir à tona. Agora, por questão de segurança, são dois respiradores nos reguladores. Ficou mais fácil ainda. Mergulhamos ali, ele fez alguns testes de pânico comigo, pediu que eu tirasse e colocasse a máscara embaixo d’água, fizesse alguns exercícios de flutuação com o colete e com o pulmão, etc. Ficamos ali uma hora mais ou menos.
Subimos à tona, ele me disse que estava indo muito bem, que sabia mesmo mergulhar e que já se sentia seguro pra me levar pro alto-mar naquele mesmo dia!
Huhuhuhu
Depois do almoço pegamos o barco e fomos pra alto-mar. Nesse dia mergulhei até 12 metros de profundidade. Fomos num coral bonito onde havia, inclusive, um naufrágio de um pequeno navio antigo!
À tardinha voltei pro meu resort, fiquei comendo ali na beira da piscina e assistindo um bingo com um animador bizarro... o prêmio: uma garrafa de rum mulata.
Aproveitei a noite pra devovar o livro didático do curso.
Descobri que no hotel havia também um restaurante muito chique de frutos do mar, também incluído!
No dia seguinte peguei uma bike (sem freio!!!) no hotel para ir até o curso de mergulho. Antes fiz reserva pra jantar no hotel com uma alemã que eu havia conhecido no mergulho do dia anterior e que também estava no meu hotel.
Nesse dia fomos mergulhar numa barreira de corais mais bonita. Havia vários peixes bonitos, ouriços, moréias, e diversos tipos de corais! Havia um casal de russos mergulhando conosco que, obviamente e como todo russo, eram SEM NOÇÃO. Segundo o Leonid, só faltava eles pedirem uma pá e picareta pra poderem destruir mais os corais. Tocavam em tudo, arrancavam tudo.
Aquilo não me surpreendia pois conheço a naipe dessa galera. Quando estive lá na Rússia só faltaram me espancar e estrupar – é assim mesmo que escreve. Pra vocês terem uma idéia: em qualquer lugar do mundo quando uma pessoa tá muito bêbada e caí no chão, os transeuntes ou (i) ajudam a pessoa a levantar; (ii) ou deixam a pessoa caída ali. Na Rússia, os caras começam a chutar a cara da pessoa...
Enfim, os russos voltavam do mergulho e pediam um copo de mojito pro primeiro garçom que passava. O garçom objetava dizendo que eles estavam mergulhando e, obviamente, não podiam ingerir bebidas alcoólicas. Não foi uma nem duas vezes que o cara pegou o neguinho pelo pescoço gritou um FUUUCCKKK YOU na cara dele e pegou todos os mojitos da bandeja!!!!
À tardinha deixei uns presentes pro Chacal (chocolates e chicletes pros filhos dele). Os brutos também amam. Quase rolou uma lágrima no meu amigo cubano bandido. Ficou mais fã ainda do Tião... hehehehe
À noite fui jantar com a alemã e demos com a porta na cara. O restaurante estava fechado (era domingo!). Esse é o padrão de qualidade dos serviços cubanos. Eles fazem reserva pra um dia em que o restaurante não funciona... O jeito foi jantar no restaurante coma-até-quando-puder-vomite-volte-e-coma-mais. Nada romântico...
No outro dia fomos mergulhar num outro local chamado “paredão”. A plataforma marítima dali é bem curtinha. Apenas uns 5 km da costa onde a profundidade chega a 30 metros, depois tem um puta paredão onde a profundidade passa dos 500 metros! Desci até 24 metros. Os mais experientes desceram mais.
Enfim, o dia na praia era bem simples... assim... sol...bronze...cachaça...comida...mergulho pela manhã.... pausa pro almoço... cachaça, salsa, comida, mujeres, mergulho a tarde, TOP LESS, salsa, banho de mar. Uma vidinha simples. Bem mais ou menos... Tião ficou muito amigo dos instrutores. Não tardou pra começar a gerenciar a escola de mergulho! Kkkkkkkkkkkkkkkk
O pessoal saía pra mergulhar e quando Tião não ia, Igor e Leonid, ao invés de fecharem as portas passaram a deixar a escola/centro de mergulho aberto nas mãos do Tião. A responsa incluia fazer inscrições, receber a grana, administrar o estoque de bebidas alcoólicas, etc. hahahahaha
O vocabulário do pessoal era bem restrito. Eles só sabiam falar três palavras: loco, pinga e coño. Muito simples. Com as combinações possíveis formulavam as frases básicas da sobrevivência: ou seja, comida, mulher e cachaça.
Loco era o vocativo. Tião ganhou logo o apelido de Loco. Loco pra lá, Loco pra cá.
Coño, que em muitos países de língua espanhola é uma palavra feia (serve pra denominar o órgão genital feminino, bem como xingar alguém de f.d.p.), em Cuba é uma interjeição de espanto. Mais ou menos como “uau”, “caralho”, “porra”.
Pinga, em Cuba, não é “pinga” do português. Quer dizer “caralho” no sentido de órgão genital masculino ou “vai pra casa do caralho”, “vai pra puta que o pariu” também. Pode servir também pra denominar as coisas. Mais ou menos como o “trem” dos mineiros” ou a “porra” dos baianos. Baiano usa porra pra tudo... sem duplo sentido.
“Toma essa pinga” quer dizer “pega esse trem aí” ou “pega essa porra” aí, se fosse na Bahia. Aliás, baiano não fala “essa porra”, fala “sáporra”...
Enfim, é tudo a mesma coisa! CARALHO!
Então, os diálogos riquíssimos entre Tião, Igor e Leonid eram mais ou menos assim:
“Oye, Loco! Toma la pinga de las haletas”
“Coño!!!! Que chica linda! Pinga (pau) nela!!!
“Cõno Pinga Loco Pinga Loco Coño Pinga Loco Coño!!!”
Tião ficava falando pras brasileiras:
- Gosta de Pinga?
- Toma uma Pinga minha?
- Quando tomastes a tua primeira Pinga?
- Já passou a noite cheia de Pinga?
Hehehehehehe
Enfim: Leonid, Igor e Tião eram conhecidos na praia como “Los Tiburones de la Tierra”. Nenhuma chica escapava das gracinhas. Como mulher que vai à feira só pra levantar o ego com as cantadas baratas, era só passar na frente da escola pra escutar:
“Oyyyeeee. Te juro! Te juro que es la máás bela de toda la playa!!!”
“Te creo, Tião... te creo...”, desdenhavam as argentinas.
“Y MIRA QUE NO SOY UN MENTIROSO!!!!”
“Tião decarado....”
Los Tiburones de la Tierra |
Nesse dia, voltando pro hotel de bike, descobri que ela tinha freio. Era preciso pedalar no sentido contrário. O negócio freiava a roda traseira (não travava). Bizarro. Nunca vi uma bike assim. Mas nem foi preciso usá-los. Pelo contrário, tomei uma carreira de dois cachorros. Tá ligado aqueles cachorros de roça que nunca viram um carro na vida, quando passam na estrada saem correndo atrás? Foi mais ou menos o que aconteceu comigo...
Outra coisa que eu nao aguento mais em Cuba é a tal da platana (banana) frita. Aqui toda banana é verde verde, mas por dentro está madura. Acho que é alguma alteração genética resquício da United Fruit Company. Eles pegam essa banana e fritam com sal. Acho horrível salgada, mas eles comem em tudo quanto é lugar e põem como acompanhamento em todo tipo de prato.
Yordanna (a camareira) está cheia de graça pra cima do Tião. Todo dia ela faz um boneco diferente com as toalhas e roupas que o Tião deixa espalhados pelo quarto.
“Pô, Tião. Até a camareira?”
“Johnny: do céu, urubu; do chão, cururu; e, de quatro, só escapam mesa e cadeira”
No es fácil...
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